segunda-feira, 5 de junho de 2017

40º dia - Destino San Lorenzo (Honduras)

Dia 04 de junho de 2017.


Hoje o dia começou bem, com um domingo ensolarada na cidade de León.

Antes mesmo de tomar o café no hotel, saí para fotografar uma igreja que fica quase em frente do hotel onde estou hospedado, e que aparece no final do vídeo que postei ontem, quando da minha chegada na cidade.

Trata-se da Igreja de San Juan Bautista, construída no século XVIII. Quando passei por ela, na chegada na cidade, a impressão que tinha é que era uma ruína, tal o estado de conservação dela, porém de manhã, quando fui até lá tirar umas fotos, fiquei surpreso pois estava sendo realizada uma missa.

Tentei buscar na internet alguma informação sobre ela mas não obtive sucesso. Fica abaixo então algumas fotos da igreja.

Igreja de San Juan Bautista








Após fotografar a igreja voltei ao hotel para tomar o café da manhã e pegar a estrada.
Adivinhem o que me esperava no "desayuno"? Café preto, ovos mexidos, pão, geléia e....arroz com feijão. Comi de novo, claro. E estava bem bom. 




Enquanto carregava a moto em frente ao hotel, fotografei um meio de transporte bastante comum aqui na cidade de León: um pau-de-arara, muito comum no nordeste do Brasil.
Aqui tem bastante disso e vi alguns tão entupido de gente que cheguei a duvidar da lei de física que diz que "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo". Aqui pode!!!



A foto abaixo, só o pessoal que o trabalha na Operação da Refinaria Alberto Pasqualini vai entender o trocadilho, ou seja: aqui na Nicarágua, essa é a unica ponte que não é Longa!!!


Cheguei no passo fronteiriço de Guasaule e aí começou o perrengue do dia. Para começar tinha dezenas de caminhões em uma fila, mau sinal para quem quer fazer uma migração/aduana tranquila. Tinha ônibus com dezenas de passageiros disputando espaço nos guichês, e depois, para completar o cenário triste, no lado hondurenho tinha a famigerada figura do "helper", o diabo encarnado na pessoa humana, tudo isso sob um sol escaldante do meio-dia, que foi a hora que cheguei lá.

Nos fundos daquele prédio verde fica o raio X (scanner)

Para começar a encarar a maratona, antes de qualquer coisa, fui em uma birosca que tinha no local e pedi uma Pepsi-Cola para matar a sede e vejam só como ela me foi servida.

Isso mesmo, a mal humorada dona da birosca colocou o conteúdo da garrafa em um saquinho plástico, fincou um canudinho, amarrou a boca do saco e:

TOMMMMAAAAA!!!!! 
Enjoy it!!
 

Nessa hora eu senti que a coisa aqui ia ser feia. 
E foi!!!

Tomei então meu saquinho de Pepsi-Cola (coisa para poucos nesse planeta), respirei fundo e fui encarar a maratona da imigração.

A imigração de saída, parte mais fácil de qualquer fronteira, já gerou um "mini-stress". A guria do guichê não sabia fazer, foi pedir ajuda para os "universitários". Tive que ir para outro guichê e pagar o imposto de saída no valor de USD 2,00. Eu disse no valor de USD 2,00 e não o equivalente a isso. Porquê eles não aceitam que se pague esse valor em moeda do país deles (Cordoba Oro), só aceitam dólar. Se você não tiver dólares, vai num cambista ali fora, faz o câmbio e volta para pagar. - vai entender?!?!

Depois disso fui fazer a aduana (dar baixa na importação temporária da moto). Isso é feito por um ou dois funcionários da receita federal deles que ficam circulando por aquela enorme área.

Felizmente encontrei um deles de primeira e quando fomos até a moto ele perguntou quantas bagagens eu carregava. 
Falei a verdade: cinco bagagens, sendo o conteúdo dos dois baús laterais, um "top case", uma bolsa amarela de 90 litros (pesada pra caramba) e mais um saco contendo roupas de frio (que a última vez que usei acho que foi no Equador, nos Andes).

Pois bem, disse ele, tem que tirar tudo da moto e passar no scanner (raio X), que fica naquele prédio, do outro lado da (larga) rua.

Gente, eu tonteei mas não caí!!

Nessas horas eu tento intimidar o "inimigo" mostrando força.

- ¡Sólo si es ahora! (Só se for agora!), falei pro cara da aduana.

E não é que funcionou? O cara viu que isso era humanamente impossível e disse que era muita coisa.
Falou que ia colocar no papel que eu estava levando só duas bagagens, que eu escolhesse duas e levasse para o raio X.

Escolhi as duas mais leves e fui pro scanner feliz da vida.

Creio que essa novela toda, desde a Pepsi-Cola ensacada até a etapa do raio X deve ter levado mais de uma hora.

Cumprida essas etapas, saí da Nicarágua e fui fazer a entrada em Honduras.

Lá me deparei com a famigerada figura do "helper", que daqui em diante vou me referir à esse, especificamente, como "arroz".

Mas porquê "arroz"?
Você nunca teve um arroz cozido, que grudou na tua roupa e secou? O arroz cozido, depois que seca em contato com uma roupa, vira um concreto. Você quebra uma unha mas ele não desgruda do tecido, e é capaz que só desgrude depois de duas ou mais lavagens.

Então, o "arroz" colou "ni mim", sequestrou minha alma já na chegada da imigração de Honduras.

Falei que não queria ajuda, ignorei, saí andando e o "arroz" ali, grudado, parecendo sombra.

Aonde eu ia o "arroz" ia também. No final das contas, o sujeito me passou em um papel o nome das cidades por onde eu devia passar, a fim de fazer o caminho mais curto para sair de Honduras e dei USD 10,00 para ele (o valor que geralmente se paga para esses "encostos").

Quando eu estava fazendo a imigração de entrada em Honduras, o oficial perguntou se eu iria ficar em Honduras ou era só trânsito. Falei que poderia ficar uma noite ou duas no país e aí ele não sabia o que fazer. Chamou mais dois oficiais de imigração e fizeram uma mini-reunião. Percebi então que não era comum, pelo menos naquele posto de fronteira, as pessoas "quedarem" em Honduras. O negócio aqui é vazar o quanto antes.
Honduras é tipo um "picolé de chuchu" - no mínimo sem graça.

Chamei então o cara da imigração e disse que era só trânsito, que não iria "quedar" em Honduras. Pronto, passaporte carimbado.

Fui para a moto e o "arroz" foi junto, disse que iria abrir os caminhos adiante, falar com os guardas para agilizar a última etapa. Passei e lá adiante o "arroz"  me pede mais dinheiro, primeiro 11,00 Lempiras Hondurenhas, depois disse que eram USD 11,00, relativo a ter me ajudado a by-passar a fumigação da moto, que eu tinha economizado não sei quanto com isso.

Disse a ele que não tinha mais dinheiro e acabei dando USD 5,00 pra me livrar logo dele.

Mais tarde, durante a viagem, fiquei pensando que isso pode me trazer problemas quando eu for sair de Honduras para entrar em El Salvador pois posso ser cobrado pelo comprovante da fumigação quando da entrada.

Bom, de todos os países que eu passei até agora, desde que saí do Brasil, esse é o que mais está me causando má impressão, e bota má impressão nisso.

Logo de saída as estradas são péssimas, extremamente esburacadas, muita miséria na beira das estradas e crianças, como em algumas parte do interior do Brasil com uma pá tapando burcas na estrada e pedindo dinheiro pelo serviço.

Foi me dando uma vontade enorme de sair logo daqui e fui acelerando para ver se conseguia ainda hoje entrar em El Salvador, que também não deve ser muito melhor.

Já tinha passado por uma cidadezinha do interior (Choluteca) e estava a meio caminho da próxima, San Lorenzo (cidade um pouquinho maior que a primeira) quando o motor da moto começa a falhar, no meio do nada.
Só mato e miséria em volta, nada mais.

Gelei!!!! (Gelei porquê só estava falhando, porquê se tivesse parado o motor eu teria me cagado).

Diminuí a velocidade e o motor parou de falhar, daqui a pouco, mesmo em velocidades mais baixas o motor continuava dando umas falhadas. A estrada não tinha nem acostamento, só mato em volta.

Fui seguindo, cada vez mais devagar (e a moto falhando), torcendo para conseguir chegar em San Lorenzo pois ali pelo menos poderia me instalar em um hotel, por mais simples que fosse, e tomar uma decisão. Já estava pensando em colocar a moto em um caminhão e despachar para a cidade de Tegucigalpa (capital) e lá procurar por um mecânico que possa mexer em moto grande.

Felizmente cheguei aliviado em San Lorenzo, abasteci e fui comer algo na loja de conveniências do posto - isto já eram 15:40h e eu ainda não havia comido nada desde o café da manhã.

Na loja de conveniências tinha Wi-Fi e procurei um hotel (encontrei um muito bom) e me instalei, onde estou agora.

Na ida para o hotel, depois do abastecimento, dei umas aceleradas na moto e estava tudo normal novamente com o motor - sem falhas.

Mandei um "whatts" para o Joadir, mecânico especializado em BMW de Porto Alegre, contando o ocorrido e ele disse que podem ser duas coisas: combustível de baixa qualidade (adulterado) do último abastecimento ou a bomba de combustível (que foi trocada antes da viagem) estar entrando em curto e dando sinais que pode parar de vez.

Vou tentar fazer uma revisão da moto na concessionária BMW na capital da Guatemala, pois não pretendo passar mais do que horas em El Salvador, tendo em vista a má fama do país no quesito segurança.

Acordei de madrugada para escrever esta postagem, pois ontem tudo o que eu queria era descansar.

Rodei nesse dia 205 km.
Coordenadas do hotel: N13° 26.134' W87° 26.759'

15 comentários:

  1. Aventuras... Chegando aos 10.000 km?

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  2. Duras honda,logo sai do terceiro mundo (ou quarto,quinto).jaca

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  3. Olhei o teu diário pela primeira vez hoje. Estão muito legais as tuas narrativas. Parabéns e avante!

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  4. Cuida bem dessa máquina!!! Ela está sendo tua parceira na conclusão desse sonho!abraço!

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  5. Aff ! Até perdi o fôlego !
    Desta vez, realmente foi uma saga !
    É isso aí,mas sempre em frente !
    Pensando;você vai voltar também de moto todo o trajeto de voltar ao Brasil ?
    Abração, guri !
    Estamos aí contigo♡!

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  6. Já Passou primo, o arroz grudou lá atrás, mas foi desgrudando quando estava chegando em San Lourenzo. Daqui pra frente sem arroz na tua sombra primo. Com todo teu relato, ainda bem que teu café da manhã foi bem reforçado. kkkkkkk Mas vai com fé que estamos aqui torcendo por ti, e pedindo proteção Divina na tu viagem. Deus te proteja o tempo todo, e que não tenha nenhum arroz grudento no teu caminho. Vai com Deus... Bora lá primo, boa viagem pra ti.

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  7. Adorei teu relato, a igrejinha por fora está com estado horrível, mas por dentro me pareceu jeitosinha. kkkkkk
    Vai com Deus Edison Nunes, ele está te acompanhando, os Anjos guardiões estão do teu lado, nas costas e na tua frente. Nada de anormal acontecerá. Deus está no Comando.
    Tudo isso que aconteceu nesta cidade, principalmente a coca-cola. Meu ... Acho que não conseguiria tomar uma coca-cola naquele estado, acho que ficaria com muita sede mesmo. kkkkkkkkkkkkkk Mas isso tudo valeu, não é?
    Bjos primo, bora lá, pegar estrada ...

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  8. É o Sid !
    Estou longe, mas pode ser somente combustível de má qualidade! Penso que a bomba daria falha no funcionamento também em baixa rotação. Vale a pena, também conferir filtro de combustível. Um abraço e boa sorte na viagem.

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    1. Fala Sid. Creio que era a qualidade do combustível mesmo. Já estou quase no norte da Guatemala, ou seja, fazem dois dias do ocorrido e a moto não apresentou mais nenhuma falha, para meu alívio.
      Obrigado pela dica e participação.
      Abração.

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