sábado, 24 de junho de 2017

55º dia - Destino Alpine - Texas (USA)

Dia 20 de junho de 2017.

Para quem não sabe, existem 48 passos fronteiriços ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, que tem 3.201 km de extensão.

Eu sei que a mais movimentada delas, e essa eu não gostaria de cruzar de jeito nenhum, é a de Tijuana (México) e San Diego (USA) - é o inferno na terra.

Segundo dados ela é provavelmente  a fronteira mais movimentada do mundo. Eu não sei qual é a menos movimentada desses 48 passos fronteiriços mas hoje eu passei por um dos mais remotos que existem, e já de antemão aviso: se você vier de moto ou carro por essas bandas, não faça o que eu fiz, e vou dizer porquê.

Buenas, iniciei meu dia na estrada às 06:45h. Sabia que tinha mais umas retas sinistras pela frente, mas o consolo é que seriam as últimas aqui no México e logo mais já estaria rodando dentro do estado do Texas, nos EUA, aonde, acredito, seria menos tenso em se tratando de recursos em caso de uma emergência.

Resolvi fazer um caminho mais longo, indo primeiramente até a cidade de Camargo e de lá para Ojinaga (border), porquê assim rodaria uns 70 km em rodovia "cuota". Se rodando nas "cuota" já me sentia tenso, imagina se fosse pela "libre" (sem pedágio).

Cheguei na cidade de Camargo, abasteci a moto pois dali até a fronteira com os EUA eram mais 245 km, sem postos de gasolina (disso eu já sabia). Confirmei essa informação com a frentista e me preparei para encarar esse último trecho no México.  Eu só não sabia de uma coisa: não eram só postos de gasolina que não haviam de Camargo até Ojinaga, não existia absolutamente nada!

Gente, quando peguei a CHIH67/18, em direção à fronteira, distante a 235 km dali, eu quase enfartei.

A estrada (precária) era um risco no meio do nada. Mais reta não podia ser. De um lado e outro uma vegetação muito parecida com a nossa caatinga e lá no horizonte, muito longe, umas montanhas que devido à enorme distância não dava nem para saber qual a altura daqueles morros.

Até aonde a vista alcançava eu não via nenhum veículo, indo ou vindo.

Pensei comigo: "e ontem eu achando que tinha sido duro aquela travessia na rodovia da Zona del Silêncio (e foi) o que vai ser isso então??"

Começei a rodar naquela estrada às 07:45h e fiz um cálculo de cabeça que levaria umas duas horas para chegar na fronteira. O GPS nesses casos não ajuda muito com o cálculo dele pois ele estava dizendo que eu chegaria em Ojinaga só lá por meio-dia.

Depois de uns 10 km rodados dentro daquela que seria, seguramente a estrada que me deixou mais tenso desde que saí do Brasil, comecei a pensar na possibilidade de voltar e procurar um outro passo fronteiriço menos longe da civilização para passar.

Porém a outra passagem de fronteira mais próxima seria Juarez (México) El Paso (EUA). Também é uma passagem muito movimentada, duas cidades enormes, tanto no México quanto nos EUA.

Fui seguindo, só eu e mais nada por aquela estrada. Eu estava extremamente tenso, só passavam pensamentos ruins pela minha cabeça - não conseguia relaxar.

Não existe sensação pior do que pilotar em uma estrada deserta e reta como essa pois você não pode nem se enganar. Você está vendo com teus próprios olhos que não tem nada até aonde a vista alcança.

Depois de uns 100 km rodados alcancei finalmente aquelas montanhas que eu avistava lá da ponta, quando iniciei a travessia. Nesse momento comecei a ficar mais relaxado pois eu imaginava que depois daquela montanha iria encontrar uma vila que fosse. Pura ilusão, tinha outra reta pela frente.

Chegou um ponto desse trajeto que eu comecei a ver pelo retrovisor  um ponto escuro, que parecia ser um carro se aproximando em uma velocidade maior que a minha. Eu diminuía a velocidade e não tinha carro nenhum, era imaginação minha.

Dessa feita eu decidi que não iria forçar o motor da moto dirigindo à 140 km/h como ontem. Fui a 120 km/h até porquê a pista não oferecia condições de se pilotar acima dessa velocidade.

Durante esse trajeto, mais tarde, passaram por mim um ou outro veículo, quase todos em sentido contrário ao meu.

Já nos últimos 100 km faltantes resolvi escutar uma música e aí foi que comecei a relaxar.

Faltando 45 km para chegar na cidade de Ojinaga a estrada deserta em que eu estava se encontrou com uma outra (CHIH80D) que vinha da cidade de Chihuahua, capital do estado de Chihuahua, aonde então apareceu movimento de veículos.

Cheguei em Ojinaga e fui direto fazer minha saída do México, além de dar baixa na importação temporária da moto e pegar meus 400,00 USD de volta, que havia deixado como garantia lá na aduana de Talisman, quando entrei no México.

Vocês sabem que essas regiões de fronteira, principalmente entre EUA e México não é bom ficar tirando fotos, inclusive em alguns lugares é até proibido, mas eu tirei essa foto estando no lado Mexicano, onde aparece uma estrutura, um muro na verdade, separando as fronteiras.

A entrada nos EUA foi um pouco demorada em função do número de carros que havia na fila e também porquê a U.S. Customs and Border Protection fez uma inspeção nas minhas bagagens, além do que tive que passar a moto por um scanner duas vezes: uma empurrando a moto ao lado dela (não sei porquê) e a outra montado na moto, motor ligado e numa velocidade não maior que 4 milhas por hora.

Um pergunta que eu tinha certeza que eles iam fazer para mim, e fizeram, era: porquê eu estava entrando nos EUA por este local. Falei que era porquê tinha passado na Zona del Silêncio e essa era a imigração mais próxima daquele ponto.

Entrei nos EUA sem a mínima ideia de até onde eu iria pilotar hoje. Primeiro entrei na cidade de Presídio para ver se comprava um chip para o meu celular pois aqui são muito baratos e posso ficar conectado o tempo todo. Não obtive sucesso pois a única loja de celular na cidade não dispunha de um chip. A menina me disse então que na cidade de Alpine ou El Passo eu poderia encontrar.

Quando saí da loja de cell phones, o GPS não quis ligar de jeito nenhum - deve ter sido um efeito retardado da Zona del Silêncio.

Abri toda a minha bagagem para pegar no fundo de tudo um outro GPS menor, que tenho para essas emerências. Quando coloquei ele para funcionar descobri que não havia ainda colocado um mapa dos Estados Unidos nele, ou seja, de nada me adiantaria ele sem mapa.

Saí dali e parei em um posto para tomar uma água, pois o calor estava muito forte e precisava pensar com calma para qual cidade ir e o que fazer. Lá conheci o Sr. Jaime (Piña) que vendo a moto, veio conversar comigo. Ficamos conversando um pouco e ele me deu ótimas dicas sobre quais estradas eu deveria pegar para chegar à El Paso ou outra cidade com mais estrutura que aquela em que estava.

Decidi seguir em direção à cidade de Alpine, me hospedar e lá e procurar o chip para meu celular.
Quando cheguei na cidade de Marfa, a meio caminho para a cidade de Alpine, o sr. Jaime estava me esperando, estacionado no acostamento. Conversamos mais um pouco e partimos, fui seguindo ele até Alpine, onde ele novamente parou, me forneceu informações onde encontrar hotéis com preço bom.

Deixo aqui meu agradecimento à esse senhor que fez questão de me esperar na beira da estrada e me ajudar nesse meu primeiro dia nos Estados Unidos. Não poderia ter havido melhor recepção nesse lindo país.

Obrigado Sr. Jaime (Piña)

Me hospedei nesse motel, a beira de uma rodovia na entrada da cidade de Alpine. Um motel muito simples mas onde tudo funciona, desde o ar condicionado (super forte) e uma conexão Wi-Fi muito boa - super fast.






Na próxima postagem vou falar minhas impressões sobre essa pequena cidade.

Rodei nesse dia 487 km.
Coordenadas do hotel: N30° 21.581' W103° 39.274'

12 comentários:

  1. Parabéns mais uma vez, amigão.
    Andar de moto é uma arte.
    Ou doença. Depois que pega este vírus, não cura mais....
    Kkkkkkk
    Orgulho de ti amigo.
    Abraços e boas estradas.

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  2. E eu rezando pro Miguel. Bonitinho e suas aventuras!!

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  3. Porra meu tá a fim de deixar a gente de cabelo em pé? Já a

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    1. Se tu ficou de cabelo em pé lendo, imagina eu nessa jornada.
      Abração.

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  4. Estava (também)preocupado pela demora de notícias Coimbra.
    Imagino a sensação de rodar em lugares como esses! Muito bom que estás bem! Grande abraço meu amigo!!!

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  5. Que tenso! Mas muito interessante. O povo norte-americano é muito gentil e gostam de ajudar. Um abraço. Sidnei.

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