sábado, 15 de julho de 2017

69º dia - Destino O TOPO DO MUNDO

Dia 04 de julho de 2017.

"Suba a montanha não para fixar a sua bandeira, mas para abraçar o desafio. desfrutar do ar e usufruir da paisagem. Escale-a para que possa ver o mundo, não para que o mundo possa te ver." (David McCullough Jr.)

Combinamos de nos encontrar no café da manhã do hotel às 07:00h e tomar a decisão de sair, ou não, para o Topo do Mundo.

O dia amanheceu lindo em Fairbanks, tempo ruim não seria motivo de não partir.

O Manoel, mexicano amigo do Francisco, disse de antemão que não iria participar da "empreitada" porque havia tido taquicardia durante a noite e não queria partir para esse desafio, sabidamente difícil, com esse problema.

Os outros todos então, confirmados que a previsão do tempo era favorável, começaram  a arrumar as motos para a partida.

Conforme combinado, o Carlo reafirmou sua disposição de nos acompanhar somente até o marco do Círculo Polar Ártico.

Eram exatamente 08:25h da manhã quando as quatro motos, totalizando cinco pessoas pois o Francisco levava sua filha Diana de 18 anos na garupa, deixaram o estacionamento do hotel em Fairbanks.

Tempo excelente, porém intercalando entre sol e forte neblina nos primeiros quilômetros - neblina densa, forte mesmo, a ponto de a motocicleta que ia poucos metros a minha frente sumir, mas foi por pouco tempo.

Depois de alguns poucos quilômetros rodados, a neblina sumiu totalmente dando lugar à um céu com poucas nuvens, porém a temperatura mantinha-se baixa.

Paramos para registrar uma foto na placa que indicava o início da Dalton Highway, ou seja, o último e mais temido trecho da Alaska Highway, que começa no Canadá, na cidade de Dawson Creek. Essa placa fica á 133 km de Fairbanks.




A partir daí a estrada asfaltada começa a dar lugar à vários quilômetros de chão batido ou apenas rípio (ou gravel em inglês), mas nada que não se possa transpor com facilidade.

Ao longo de muitos trechos, a Alaska Highway é acompanhada por um imenso oleoduto, o Trans-Alaska Pipeline, um oleoduto que tem 48 polegadas de diâmetro e 1.287 km de comprimento.

Especula-se que por ele escoe, de Prudhoe Bay até Valdez (ambas no Alaska), entre 10 e 20% de todo o petróleo consumido pelos Estados Unidos, daí se tem uma ideia da importância econômica e estratégica, não só do oleoduto como também dos campos de produção de petróleo de  Prudhoe Bay.

Após 220 km rodados, já tendo passado até esse ponto por muitos trechos sem asfalto (chão batido de boa qualidade), chegamos ao Rio Yucon, transposto através de um ponte enorme, com o piso de madeira.



Nesse posto de abastecimento, logo após o Rio Yucon, pode-se tirar fotos embaixo do oleoduto.




Partimos então em direção à placa que indica o início do Circulo Polar Ártico, distante 128 km deste ponto.

Chegamos na placa, tiramos fotos e recebemos um "certificado" da nossa passagem por este local,. Este certificado é emitido por um casal de idosos que, vendo ali uma maneira de ganhar algum dinheiro, confeccionou um certificado e um carimbo (para o passaporte) para os turistas que vão até aquele lugar. A contribuição é voluntária, cada um dá quanto quiser, se quiser contribuir.

Da esquerda para a direita: 
Francisco e Diana (pai e filha - mexicanos), Roger (mexicano), Carlo (belga, residente no México) e eu.




Devidamente certificado!!

Passaporte carimbado.

Nessa altura o Carlo, que dali iria retornar à Fairbanks, estava tão empolgado com a qualidade da estrada e o clima favorável que resolveu seguir com os demais até o final . Mal sabia ele, tampouco  nós, o que nos esperava nos quilômetros finais da Dalton Highway - coitado dos "tiozões" aventureiros!

Logo após o rio Yucon tem um posto de abastecimento, depois desse somente outro em Coldfoot, e depois somente em Pudhoe Bay, à quase 400 quilômetros de distância de Coldfoot.

Último abastecimento, em Coldfoot. Depois desse, outro só daqui à 400 km.





Partiu Prudhoe Bay!!!!!!

Saímos empolgados daquele lugar. A paisagem foi ficando cada vez mais bonita.

Fomos nos aproximando do Atigun Pass, ponto em que a Alaska Highway e, consequentemente, a Dalton Highway atinge sua altitude máxima: 1.465 msnm (dado extraído do meu GPS após cruzar esse passo).

A medida que você viaja ao longo do Atigun Pass, você está indo sobre a Divisa Continental. Os rios situados ao norte do Atigun Pass desaguam no Oceano Ártico, enquanto que os rios situados ao sul, desaguam no Mar de Bering.

Nessa altura da viagem o tempo já não estava tão bom, sendo que já havíamos enfrentado alguma chuva, mas nada que causasse preocupação.

As vezes encontrávamos uns grupos de motociclistas vindo em sentido contrário. Cumprimentávamos com sinais de luz e acenos.

Ainda tinha gelo nesse rio, próximo do Atigun Pass.

Trans-Alaska Pipeline e Atigun Pass.


Foi nesse ponto, Atigun Pass, que a medida que íamos nos aproximando da descida começamos a avistar uma luminosidade entre duas montanhas e, de longe, não conseguíamos  definir o que era aquilo. Quando chegamos perto foi que percebemos que era um enorme arco-iris. Eu nunca tinha visto um arco-iris tão grande antes. Liguei a câmera e comecei a filmar aquele espetáculo da natureza.



Bom, já na descida do Atigun Pass, começou a nossa primeira grande dificuldade. Como vocês podem perceber no filme da passagem do Atigun Pass, o piso era de terra, e havia chovido recentemente, então nesse ponto as coisas começaram a ficar difíceis.

Além da dificuldade de manter a moto equilibrada naquele piso escorregadio que havia se transformado a Dalton Highway, ainda levávamos um banho de respingos de lama dos caminhões que vinham em sentido contrário, em alta velocidade, terminando por deixar a gente e as motos em estado lastimável.



Paramos a beira da estrada para que eu abastecesse minha moto com a gasolina extra que havia levado e seguimos. A próxima parada seria somente em Prudhoe Bay.

Os últimos 50 km, creio eu, foram uma verdadeira prova para todos nós e, principalmente, para o Francisco que  levava sua filha na garupa.

O terreno a alguns quilômetros da chegada à Prudhoe Bay é pantanoso, não permitindo seu asfaltamento devido à grande variação de temperatura ao longo do ano, o que faria com que, se asfaltado fosse, sofrer constante e caríssima manutenção  devido ao congelamento e descongelamento das camadas abaixo da estrada.

Por esse motivo, nestes últimos e pantanosos quilômetros a Dalton Highway é constantemente coberta por uma camada generosa de "gravel" (cascalho, brita, rípio).

Trafegar nesse tipo de piso, para pessoas que nunca tiveram experiência em off-road como eu, com uma camada, seguramente, de uns 10 cm desse material é extremamente cansativo e estressante, e pior: perigoso, ainda mais com motos carregadas ao extremo.

Se parar a roda da moto afunda, se andar muito rápido é queda com certeza. Mesmo rodando bem devagar é um susto a cada metro, e foram muitos quilômetros rodando nesse piso. Eu estava tão tenso que não conseguia tirar minha mão do guidão da moto para ligar a câmera no capacete a fim de registrar aquele inferno em que eu, e os demais, tínhamos nos metido.

A Dalton Highway é destinada para veículos pesados trafegarem - grandes caminhonetes e caminhões que vão e vem de Produhe Bay, transportando maquinário para a indústria petrolífera.


Em um determinado trecho o tráfego estava temporariamente interrompido: eles estavam instalando um tipo de isolante térmico (um material branco, que tem a aparência de grandes placas de isopor) para tentar diminuir o efeito da variação de temperatura e, quem sabe no futuro, conseguir asfaltar essa parte da rodovia.

Passado os intermináveis quilômetros rodando naquele inferno, quando já estávamos quase chegando no nosso destino, o pneu traseiro da moto do Francisco furou. Fomos para um refúgio a beira da estrada e, após um trabalho de equipe, o pneu foi reparado.





Eram 22:45h de uma noite ensolarada quando chegamos em frente ao Prudhoe Bay Hotel, um hotel/alojamento destinado, prioritariamente, a abrigar trabalhadores da indústria do petróleo mas que também recebe uns "loucos" de vez em quando.






Estávamos com fome, exaustos, cobertos de lama, debilitados física e psicologicamente, mas felizes, mesmo após quase 15 horas, quase que consecutivas, de pilotagem.


Eu particularmente, nem tive tempo de comemorar o feito, não pensava em outra coisa a não ser comer qualquer coisa e descansar. Somente algumas horas mais tarde é que iria saborear o gosto de ter cumprido o  desafio a que tinha me proposto.

Fomos deitar com a gostosa sensação de ter vencido um desafio.

Segundo dados que li na publicação de um outro motociclista que também foi até lá, somente 2 em cada 100 motociclistas que saem com esse objetivo, chegar a  Prudhoe Bay,  obtém sucesso.


Lá fora o sol brilhava forte: havíamos chegado na terra do sol da meia-noite.


Rodamos nesse dia 802 km.
Coordenadas do hotel: N70° 12.038' W148° 27.514'

8 comentários:

  1. Local onde só pessoas especias conseguem chegar. Estou muito feliz pela tua vitória e me sentindo,também, um privilegiado por ser teu amigo! Parabéns!

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  2. Caro Edison
    Acompanhei toda sua viagem espetacular, parabéns pelos relatos, imagens e vídeos, sensacionais!
    Retorne em segurança e em paz.
    Abraço fraterno,
    Célio Benício
    Motociclista de Belo Horizonte - R1200GSA

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  3. Edison
    Caso necessite de qualquer apoio nas Minas Gerais, conte comigo.
    Boa viagem!

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  4. Parabéns pela empreitada, acompanhei cada post, e cada qual muito interessante, com o teu jeito. Obrigado por compartilhar tanto em informações e vivências. Como sabes esta trip também é um dos meus planos, agora mais informado e apetrechado pelas tuas informações. Além de um parceirão de boas andadas, és uma grande figura humana!! Valeu guri. Um belíssimo retorno à casa, na companhia dos teus anjos de guarda!! Se incluires Aracajú neste retorno, já sabes que tens estadia!!! Grande abraço.

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